Aquele momento havia passado desapercebido por dezenas de anos.Eu sabia que aquela ONG desenhava carteirinhas escolares para crianças deficientes físicas. Que ela havia surgido porque a mãe de uma delas queria a igualdade para as tres filhas desiguais, uma delas deficiente física. Que este é um tipo de sofrimento que todos intuem apenas à distancia. Que as escolas convencionais eram surdas aos argumentos de que a criança era as vezes tão ou mais inteligente que as demais. Apenas não se sentavam. Não andavam.Não podiam.
Cliquei no video do you tube. Aquele momento foi uma fresta. O real passou como se pudesse ser perdido por um triz.
A oficina ensinava os pais. No final do dia, coloridas, as cadeiras começavam a receber as crianças. O video registrava os irmaõzinhos sentados ao redor. Os oficineiros ajeitando os cintos laterais de segurança. A criança sendo erguida. Ganhando a segurança de algo parecido com uma coluna vertebral. A intimidade com a cadeirinha sendo conquistada pelo cheiro de tinta recente. Pela cor de mundo novo. Pela temperatura aquecida da novidade.
De repente, como se invadindo a privacidade da camara, dos olhares, da surpresa dos
presentes, as crianças riam e choravam maravilhadas.Interagiam pela primeira vez com os irmãozinhos que se sentavam curiosos e próximos. O mundo agora se sentava ao redor. Deixava de haver apenas o teto ou o braço da mãe. A cadeira aconchegava algo sem nome. Havia o ao lado,o curvar para pegar o brinquedo. O rosto do irmão de perto. Quase do tamanho das outras crianças, antes sempre mais altas ou mais baixas. Girar quase meia volta.E se quisesse, tomar o brinquedo do irmão.Poder escolher por deixá-lo entrar no seu mundo. Fazer parte dele por opção. Livrar-se da aquiescencia generosa e desqualificante.Ver pela primeira vez de perto o desejo conquistável.
Ganhar ou perder num jogo onde a regra anterior aumentava a chance do perder ou perder.
domingo, 22 de maio de 2011
domingo, 24 de abril de 2011
CEGUEIRA
Além do corpo e mente,
viaja a cegueira dia a dia,
caminha a meu lado como amiga,
transcende desejo mais curtido
não tem força ou volúpia
nem ouvido ou musica
exala suspiros e paixões.
coisa revelada
em perdido mundo
se salvará de mim
no humano mais profundo.
sábado, 26 de março de 2011
POEMINHA PARA A PÁSCOA
Vai e leva este
cheirinho
bom de alecrim.
Vem,traga de volta
o que perdi de mim.
Vai, troca por beijos
jeitinho assim.
Vem neste molejo
sorrir carmim
Vai, manda esta carta
de amor sem fim,
Vem,salta meus versos
de trampolim.
Vai, desliza a tardinha
Até o fim
Vem,
Traz o horizonte
e me diz que sim
Noite
Vem me abraçar
neste jardim
neste jardim
Sol
Diz que este dia
Nasceu pra mim.
quarta-feira, 23 de março de 2011
RIO ACIMA
Se o amor perdido
foi sofrido
e o caminho finda
o percorrido,
melhor seria
o mais rápido que puderes,
amasses profundamente
outra mulher.
Cresce a dor sem deter-se
rio acima,
pororoca que altera todo o clima,
sem crer na gravidade.
Viajante,
sei do ápice onde vejo
remoídas,
corredeiras de saudades e suspiros
no vazio.
Minh’alma
inda dormente,
quer chegar na dor
onde dói mais,
enquanto servir de alívio
a anestesia,
da descrença ingênua nos meus ais.
sexta-feira, 18 de março de 2011
TSUNAMI
A palavra japonesa Tsunami vem de Tsu= porto, ancoradouro e Nami=onda, mar.Origina-se de qualquer revolta que desloque uma grande quantidade de água tal como um terremoto, um deslocamento da terra, uma manifestação vulcânica no fundo do oceano ou um impacto de meteoro. É o que estamos vendo no Japão, se contorcendo, se revirando sobre si, sem sequer poder atribuir tudo a um castigo ambiental, um meteoro ou qualquer outro impacto cósmico a cuja exterioridade nossa mãe terra estaria reagindo. Não, é algo indigesto no mais interno de suas entranhas, como se engolido pelo planeta por bilhões de anos e manifestando ter urgencia agora em se soltar, se desmoritificar e parar de remoer contido. De repente uma cólica mais forte abre uma brecha, saída para local que por algum motivo foi chamado de porto, ancoradouro de um pranto que precisa se arrebentar em ondas. Foi neste pontinho da crosta terrestre, quase 2 vezes menor e que tem quase 2 vezes menos população que Minas Gerais, que a força da natureza escolheu para se manifestar como o sétimo mais violento da história dos tsunamis do planeta. Aludindo à Bíblia, podemos recordar que no Livro Sagrado está claro que um dia Cristo voltará para iniciar uma nova era. “Só que antes da chegada deste tempo haverá dias difíceis semelhantes aos momentos que precedem o nascimento de uma criança para uma mãe grávida”. O calendário Maia prevê que algo de muito grave se passará no solstício de Inverno em 21 de Dezembro de 2012. Tão grave será o acontecimento, que o mundo tal como o conhecemos desaparecerá. Lá dentro existe com certeza alguma brecha na fragilidade interna e talvez tenhamos que buscar na cultura oriental que conversa é esta murmurrada em segredo com as forças do planeta. Háverá uma linha tênue separando fraqueza e força, fim e começo, esperança e desespero?
A brecha na crosta que nos protege pode também se abrir como medo, deslocando grandes ondas à procura de um ancoradouro seguro com nome de tempo e duração eterna: O agora.
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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
PERDÃO PRA SI
Acorda minh´alma
e revele
seu vôo mais ordinal :
quanto mais alto perdoa
mais a saudade leiloa
uma esperança afinal.
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